Dez anos depois da crise financeira global, as contas da União Europeia têm repetido a cor de sua bandeira: o azul. A economia acumula números positivos e dá sinais de que se recupera.
O PIB (Produto Interno Bruto) de seus 28 países-membros cresceu 0,6% no segundo trimestre, em comparação ao período imediatamente anterior. Em relação ao segundo trimestre de 2016, o avanço foi de 2,2%.
Nos 19 países que compõem a zona do euro, o crescimento também foi de 0,6%. Na comparação com o segundo trimestre de 2016, o avanço foi de 2,2%.
A recuperação ainda esbarra em uma série de armadilhas, como o alto endividamento —a Grécia, afinal, deve 180% de seu PIB. Mas economistas receberam com otimismo os números do PIB divulgados pelo Eurostat, escritório de estatística da UE.
"É bastante animador", afirma à Folha Guntram Wolff, diretor do influente think tank europeu Bruegel.
Um dos casos de sucesso é a Espanha, que estava entre os mais afetados pela crise de 2007. O PIB espanhol cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano, acumulando 15 períodos consecutivos no azul.
Isso depois de, no pior da crise, pedir um resgate de " 100 bilhões. Seu PIB chegou a contrair 3,7%, em 2009.
"Ainda há bastante a ser feito para alcançar os níveis anteriores à crise", diz Wolff. "Mas há uma recuperação."
Mesmo no desemprego, do qual a Espanha foi símbolo da hecatombe europeia, há motivos para celebrar. Há 17% de desempregados ali, uma queda de nove pontos percentuais em relação aos 26% registrados em 2013.
Já o desemprego na zona do euro é de 9,1%, o mais baixo desde o início de 2009. A taxa da Grécia, de 21,7%, é a mais elevada.
O reajuste econômico europeu, afirma Wolff, se deve ao redirecionamento das economias à exportação —mais uma vez, caso da Espanha. Se o crescimento pré-crise era basicamente estimulado pelo setor da construção, hoje a exportação de carros ajuda a dar o tom.
A Espanha também prova, para algumas correntes de economistas, a validade das polêmicas medidas de austeridade. O governo local foi um dos primeiros —e dos mais intensos— a enxugar as contas, o que motivou os protestos dos "indignados" na Porta do Sol (um dos símbolos de Madrid).
"Há um longo debate sobre se a austeridade veio muito cedo ou se foi forte demais", diz Wolff. "Eu concordaria que foi muito rápida e que isso levou à recessão. Mas, desde 2012, a velocidade foi moderada", afirma.
Um dos passos emblemáticos da austeridade espanhola foi a reforma trabalhista, em que demissões foram facilitadas, por exemplo. É uma espécie de modelo ao presidente da França, Emmanuel Macron, que agora propõe medidas parecidas.
Reforma
Wolff, diretor do Bruegel, trabalhou antes na Comissão Europeia, braço executivo da UE, e ali contribuiu ao debate sobre as reformas na zona do euro, que reúne os 19 países com a moeda comum.
Com as contas no azul, o risco é que a liderança do bloco seja "complacente" e deixe de discutir sua união monetária. "Mas a zona do euro não está terminada."
Economistas como o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, entrevistado pela Folha em setembro, têm uma visão ainda mais pessimista: ele diz que a moeda comum é a culpada pela estagnação.
Diversos movimentos populistas angariam voto em torno da crise europeia, prometendo deixar o bloco. Foi o que fez a nacionalista de direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, que chegou ao segundo turno das eleições francesas em maio.
Mas, com as perspectivas de que a UE se recupere e rediscuta o seu modelo, esses partidos podem precisar de uma nova plataforma.
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