O fechamento por cerca de uma semana do Canal de Suez, no Egito, em função de um navio que encalhou, deve trazer reflexos para o comércio do Brasil com os países árabes. O canal é via para chegada de cargas do Brasil para países árabes como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar, Bahrein, Kuwait, Omã e Iêmen. Na foto acima, tráfego normalizado no Suez, um dia após liberação.
Apesar de ocorrer em um período especial nos mercados árabes, o Ramadã, há expectativa de que o impacto não vá muito além do atraso no desembarque de mercadorias. “No curto prazo, pode afetar as entregas de mercadorias para o Ramadã, mas acredito que não seja preciso mais de três semanas para se normalizar”, diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour.
O Suez não é via de passagem d cargas brasileiras para todos os países árabes, já que a maioria das nações árabes da África fica antes do canal. Mercadorias que vão ao próprio Egito são descarregadas em localização anterior. “Os navios vindos do Brasil para o Egito atravessam o Mar Mediterrâneo e atracam antes do Canal de Suez, utilizando principalmente os portos de Alexandria e Port Said”, explica o adido agrícola do Brasil no Egito, Cesar Simas Teles.
Mas Teles sabe que a situação é diferente para os embarques do Brasil a outros países árabes. “O fechamento do canal pode impactar o comércio brasileiro com outros países árabes pois a travessia do Canal de Suez é a rota mais curta entre o Brasil e vários parceiros comerciais árabes. Sem o canal, os navios gastariam até duas semanas a mais para completar o mesmo percurso”, afirmou ele à ANBA.
As cargas são colocadas em outros navios pois não há fluxo de ida e volta de contêineres entre Brasil e países árabes que justifique linhas diretas. O Brasil exportou no ano passado 188 mil contêineres de 20 pés (TEUs) ao mercado árabe e trouxe de volta, na importação, 24 mil TEUs, segundo Oliveira.
Apesar os reflexos do fechamento temporário do Canal de Suez, o executivo da Unimar relata que os armadores não restringiram os embarques de contêineres do Brasil aos países árabes. “Os armadores estão buscando alternativas em serviços que passam pelo Sul da África, Cabo da Boa Esperança, e estão avisando seus clientes que algumas conexões podem atrasar pelo menos uma semana”, afirma.
Reflexos
Cesar Simas Teles vê reflexos na venda de carnes do Brasil. “A venda de carnes para os países árabes pode ser impactada pelo atraso dos navios, pelo aumento do preço do frete e principalmente pela dificuldade em se obter contêineres refrigerados. Como a disponibilidade mundial de contêineres refrigerados já havia sido impactada pelos efeitos da pandemia de covid-19, o fechamento do Canal de Suez pode agravar essa situação”, diz o adido agrícola.
Todos são unânimes em dizer que as principais mercadorias que o Brasil exporta para os países árabes têm prazo longo e por isso não deve ocorrer perda de produtos dentro dos navios. As carnes congeladas, se mantidas em refrigeração, têm validade superior a três meses. “Neste aspecto, o governo egípcio demonstrou bastante preocupação com as cargas de animais vivos, houve mobilização de equipes de veterinários e fornecimento de forragem para navios que ficaram retidos devido ao fechamento do canal”, relata o adido Teles.
Pelo Canal de Suez passa cerca de 12% do comércio global, o que significa mais de 1 bilhão de toneladas em produtos ao ano, US$ 1 trilhão em valor. O canal é rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia. O secretário-geral da Câmara Árabe lembra que, além disso, o Suez é uma importante fonte de receita para o Egito. “Se a crise se prolongasse poderia afetar a economia do país”, afirma Mansour. O canal gerou US$ 5,6 bilhões em receitas ao pais árabe em 2020.