Apesar de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, nossas relações empresariais com o país ainda são "modestas" e "pouco dinâmicas". Isso porque, para fazer negócios com os chineses, é preciso entender que o governo será seu sócio – e esta parceria poderá vir a ser o fator de entrave.
A constatação é do estudo "Empresas Brasileiras na China – Presença e Experiências", divulgado ontem pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC). O levantamento mostra que, entre 2010 e 2011, enquanto a China investiu cerca de US$ 12,7 bilhões no Brasil, o ingresso de capital brasileiro no sentido inverso ficou em US$ 573 milhões – o que representa 0,04% do total de Investimento Estrangeiro Direto (IED) aplicado no período, segundo dados do Ministério do Comércio Chinês (Mofcom).
Hoje, 57 empresas brasileiras operam no país em 26 segmentos, sendo que 51% do total são prestadoras de serviços, como o Banco do Brasil. Outras 28% produzem manufaturas, como a WEG e a Embraer, e 21% exploram recursos naturais e agronegócios, caso da Petrobras, Vale e BRFoods. Entre os principais problemas apontados pelo estudo, estão a falta de informação e conhecimento sobre prioridades do governo chinês, questões burocráticas e objetivos estratégicos desalinhados com o governo.
Sócio – "Quando se faz negócios com a China, é preciso estar ciente de que seu 'outro sócio' será o governo. O conjunto de políticas e regras discriminatórias voltadas aos investidores estrangeiros e operadores de comércio exterior tem objetivos de longo prazo: o desenvolvimento da China para que o país volte a dominar a cena econômica internacional", explica o economista Cláudio Fritschak, responsável pela pesquisa.
Ampliar o comércio com o país asiático hoje vai muito além da prática quase onipresente entre os empresários do "guanxi", rede de relacionamentos interpessoais para firmar laços de compromisso e confiança entre gestores dos dois países. Esta rede tem como objetivo facilitar o acesso às informações sobre o mercado local e os procedimentos que facilitam aprovações por parte do governo chinês. "Mas para fazer negócios com o país, o empresário precisa pensar progressivamente, não retrospectivamente: o que o país 'é' hoje, não será amanhã", disse Fritschak.
O economista justifica essa necessidade pela rapidez da mudança de prioridades do país para receber investimentos estrangeiros – que fizeram parte da transformação produtiva durante a abertura de governo, em 1984, mas depois se diluíram dentro da economia socialista, sempre subordinada a interesses maiores dos chineses.
Se nos anos 80, a prioridade eram os segmentos de têxteis, calçados e brinquedos, nos anos 90 passou para veículos, computadores, celulares, máquinas e componentes. Mudou para aeronaves e tecnologia da informação nos anos 2000 e, a partir de 2010, alterou o foco para fontes de energia renováveis, biotecnologia e máquinas "high-tech".
Como exemplo mais próximo e recente, mostrou Fritschak, dos projetos de investimentos chineses no Brasil, estimados em US$ 12,7 bilhões, 58% eram voltados ao segmento de exploração de recursos naturais.
Já em 2011, dos US$ 11 bilhões encaminhados para 19 projetos brasileiros, 67% deles eram para manufaturas.
De modo geral, além da necessidade do governo brasileiro de eleger a China como "prioridade", destacou Fritschak, é possível aos empresários brasileiros avançar em outros setores, sempre atentos às ondas de abertura de investimentos. Exemplos bem sucedidos foram a WEG Autopeças, nos anos 90, e a BR Foods/Marfrig, que formaram joint ventures com empresas chinesas para desenvolver redes de distribuição locais. "Ainda que nos próximos anos a China venha crescendo 5%, menos que os 8% ou 9% dos últimos tempos, é preciso entender que ela continuará como o pólo mais dinâmico de crescimento global pelos próximos 15 anos, e a maior economia não só em poder de compra, mas em valor de mercado", concluiu o economista.
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