Ao definir o continente africano como uma das prioridades da diplomacia a partir de 2003, o Brasil traçava um objetivo claro: incrementar um comércio com um peso até então irrelevante na balança comercial. Até o último ano de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso as exportações e importações nacionais somavam pouco mais de US$ 5 bilhões. A abertura de embaixadas e o estreitamento de parcerias comerciais fez com que esses números se multiplicassem em cinco vezes em menos de uma década.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que o primeiro grande salto da corrente de comércio Brasil e África aconteceu entre 2003 e 2004, quando passou de US$ 6,15 bilhões para US$ 10,43 bilhões. Desde então, o comércio disparou, atingindo US$ 15,56 bilhões em 2006, US$ 25,93 bilhões em 2008 e chegando ao ápice em 2011, com US$ 27,66 bilhões. No ano passado houve uma leve desaceleração, para US$ 26,47 bilhões, ocasionada pela retração da economia internacional e pela desvalorização no preço das commodities.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que são duas as explicações para o boom comercial verificado na última década. Do lado brasileiro, a opção por uma política externa voltada ao hemisfério sul ocasionou o aumento das exportações para a África. Do lado africano, quase todas as nações tiraram proveito da explosão dos preços das commodities na última década, do milho ao minério de ferro, e passaram a turbinar suas receitas de exportação. "Com dinheiro em mãos, esses países elevaram também suas importações, inclusive do Brasil. Sem contar que muitos países liquidaram suas dívidas com organismos internacionais e passaram a contar também com linhas de financiamento às exportações", explica.
Esses dois cenários explicam o grande crescimento não apenas das exportações brasileiras ao continente, mas os desembolsos cada vez maiores com as importações. Mas, na ponta do lápis, o "peso África" ainda é reduzido no comércio externo brasileiro.
As vendas externas brasileiras ao continente passaram de US$ 2,86 bilhões, em 2003, para US$ 12,21 bilhões no ano passado, de acordo com a Secex. Na prática, isso significa que o continente africano passou de um percentual de 3,91% para 5,03% nas exportações totais do Brasil - um número ainda considerado pequeno. As importações passaram de US$ 3,29 bilhões para US$ 14,26 bilhões no mesmo período - percentualmente, um aumento de 5,66% para 6,39% de tudo o que Brasília compra do exterior anualmente.
Os principais parceiros comerciais do Brasil no continente são, na ordem, Egito (o país exportou US$ 2,71 bilhões no ano passado), a África do Sul (US$ 1,76 bilhão), a Argélia (US$ 1,16 bilhão), Angola (US$ 1,14 bilhão) e a Nigéria (US$ 1,06 bilhão). Na pauta constam, principalmente, alimentos in natura e processados e produtos manufaturados. Na mão inversa, Brasília importa principalmente da Argélia (US$ 3,19 bilhões em 2012, com destaque para a nafta), Marrocos (US$ 1,28 bilhão), África do Sul (US$ 840 milhões) e Egito (US$ 250 milhões). Com US$ 8,01 bilhões e no topo da lista de importações está a Nigéria, grande fornecedora de petróleo e a maior razão de a balança comercial brasileira com a África ter registrado déficit de US$ 2,05 bilhões em 2012.
"A África é o mercado do futuro e a última grande fronteira da economia global", resume o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel. O otimismo do acadêmico é pautado não apenas na intensificação das relações diplomáticas do Brasil com os países da região, mas ao potencial que essa aproximação pode representar no futuro. "Com a expertise brasileira nos últimos anos e a capacidade das empresas nacionais lá instaladas é possível prever que nos próximos 10 anos ainda veremos o maior crescimento do comércio. Analisando as negociações econômico-bilaterais do Brasil com outras regiões, teremos maior crescimento no comércio com a África do que com a Ásia."
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