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Usuário 24 horas - 25/09/2017

 

Caso a reversão de expectativas de consumo e investimentos observada nos últimos meses se consolide daqui para frente, alguns setores da infraestrutura do País deverão, rapidamente, responder com aumento de custos e seu repasse aos preços de serviços, devido ao fato de as demandas pelos mesmos esbarrarem nos limites de capacidade.

Na área de energia, autoridades do setor já admitem, a partir de outubro, o acionamento da bandeira tarifária vermelha em substituição à atual amarela, o que representará um custo adicional por kwh consumido. Nos transportes, em especial no rodoviário, trabalha-se com a mesma expectativa.

A situação das rodovias na área de influência direta do Porto de Santos, sobretudo das que ligam a Região Metropolitana de São Paulo à Baixada Santista -Imigrantes, Anchieta, Pe. Manoel da Nóbrega e Cônego Domênico Rangoni-, é particularmente preocupante quando se analisam os seus níveis de serviço (relação fluxos de veículos/capacidade das vias) atuais e prospectivos, sendo estes considerados no cenário de manter-se o “statu quo”.

Ou seja, sem nenhuma intervenção até que novos investimentos sejam efetivamente realizados, proporcionando acréscimos de capacidade ao sistema.

O quadro já é crítico em vários trechos dessas estradas em horários de pico de dias úteis, devendo agravar-se nos próximos anos caso a reversão de expectativas seja confirmada.

O aumento da capacidade mais previsível dos acessos terrestres ao Porto deverá ser observado até 2023 com a conclusão de projetos ferroviários, que deverão estar voltados, precipuamente, à exportação de grãos (soja, açúcar, milho e farelo de soja).

A propósito, vale assinalar que os estados do Paraná, de São Paulo, do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, do Tocantins, de Goiás (incluindo-se o DF), de Minas Gerais e Rio de Janeiro respondem, em tonelagem da navegação internacional (longo curso), incluindo os granéis líquidos e a carga geral, pela geração de mais de 97% das cargas embarcadas em Santos e mais de 93% das desembarcadas.

As estimativas consideradas otimistas de analistas ferroviários apontam para a participação de 40% das ferrovias nos fluxos de cargas do Porto, num horizonte de dez anos, representando, portanto, um salto expressivo dos atuais 26% num cenário de fluxos crescentes de cargas.

Diante de um quadro de imprevisibilidade na implementação de novos projetos rodoviários, por razões regulatórias e de financiamentos, e de pressão da demanda por serviços dessa natureza, caracterizada não apenas pelo aumento das importações com o simultâneo crescimento das exportações  pelo Porto, mas também pelo maior fluxo de passageiros entre a RM de São Paulo  e a Baixada, a consolidação do papel do “Usuário 24 hs” será elemento de fundamental importância para os ganhos de produtividade dos ativos logísticos existentes, indispensáveis na transição do momento atual até a retomada efetiva dos investimentos.

Os ganhos deverão ser sistêmicos, compreendendo vias, terminais molhados e retroportuários, recintos alfandegados, pátios, veículos, outros equipamentos e instalações.

O fortalecimento da presença desse usuário será a condição básica para o pleno funcionamento do “Porto 24 hs”, projeto ampla e exaustivamente promovido pelo Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (COMUS), da Associação Comercial de São Paulo, de setembro de 2007 a agosto de 2013 (veja Digesto Econômico, 474, de julho/agosto de 2013).

A questão central envolvendo o “Usuário 24 hs” diz respeito à viabilidade do transporte rodoviário de grãos e contêineres em horários noturnos de dias úteis (20 às 6h00) e aos finais de semana, períodos em que as citadas rodovias apresentam ociosidade.

Aspectos de segurança de motoristas, ajudantes, veículos, cargas e seus reflexos em prêmios de seguro, bem como adicionais noturnos de fretes poderão ser superados na medida em que a insistência no horário diurno provoque acréscimos expressivos de custos operacionais de carretas e caminhões, com a maior lentidão dos fluxos de veículos e a deterioração dos tais níveis de serviço.

Num quadro em que já e difícil viabilizar uma viagem redonda por dia no trecho Baixada/Jundiaí/Baixada, os fluxos crescentes de cargas forçarão a ampliação da quantidade de veículos para atendê-los, criando um ciclo perverso de menor velocidade operacional, aumento da frota em circulação, aumento de custos e, por conseguinte, de fretes rodoviários, agravando a já combalida competitividade das exportações.

Tudo isso num contexto de maior fluxo de passageiros associado ao aumento esperado do nível de emprego e da renda na RM de São Paulo e na Baixada.

Tal percepção por parte de exportadores, importadores e prestadores de serviços logísticos poderá incrementar o transporte rodoviário noturno de cargas e aos finais de semana, fortalecendo o “Usuário 24 hs”.

Entre as medidas e ações complementares que poderão ser implementadas com esse objetivo, destacam-se (i) a instalação de maior número de câmeras ao longo das rodovias e o maior policiamento das mesmas para mitigar os riscos de roubos e assaltos a carretas e caminhões;  (ii) a maior articulação das janelas operacionais dos portos secos, Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros - CLIAs e recintos alfandegados de exportação (REDEX) com os terminais molhados de contêineres,  promovendo maior celeridade dos fluxos de cargas entre a Baixada e a área de influência do Porto, tanto na importação quanto na exportação; (iii) a redução das tarifas de pedágio em horários noturnos e finais de semana para veículos de carga, podendo ser implementada pela concessionária das rodovias com base na expectativa de melhor distribuição dos fluxos de veículos por períodos de 24 hs nos sete dias da semana e de redução do número de acidentes em horários diurnos de dias úteis, com reflexos positivos no nível de satisfação dos usuários como um todo.

Essas e outras questões envolvendo o “Usuário 24 hs” serão objeto das próximas reuniões quinzenais do COMUS na Associação Comercial de São Paulo.

(*) Por José Cândido Senna, Coordenador Geral do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo – COMUS, da ACSP

 


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